quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Mensagem a Garcia



Foi um ano puxado, quero dizer, muito trabalho e um retorno menor que  o sonhado. Pouco ou nenhum reconhecimento pelo leão morto a cada dia. Regras, horários, inflexibilidades, cobranças. Um injustiçado; afinal, nesta vida quem não é? Assim eu pensei até me deparar com um texto do Elbert Hubbard, (1856 - 1915) filósofo e escritor estadunidense, que reproduzo abaixo. Gostei porque me fez refletir não sobre o estado em que me encontro mas sobre as minhas atitudes diante desse estado. Então, decidi para este fim de ano deixar aqui meus votos  de um Feliz Natal e um Próspero 2010 através da:

Mensagem a Garcia
Em toda esta história cubana há um homem que sobressai em minha memória, como Marte no periélio. Quando irrompeu a guerra entre Espanha e Estados Unidos, era muito necessário comunicar-se rapidamente com o líder dos rebeldes: Garcia. Ele se encontrava em algum lugar na fortaleza nas montanhas de Cuba; ninguém sabia exatamente onde. Nenhuma correspondência ou mensagem telegráfica podia alcançá-lo. O presidente dos Estados Unidos, William McKinley, devia garantir sua cooperação, e o mais depressa possível. O que fazer? Alguém disse ao presidente:
- Há um sujeito chamado Rowan que encontrará Garcia, se é que alguém pode encontrá-lo.
Rowan foi chamado e recebeu uma carta para entregar a Garcia. Como o "sujeito chamado Rowan" pegou a carta, guardou-a numa bolsa impermeável que prendeu sobre o coração, quatro dias depois desembarcou à noite de uma lancha, ao largo da costa de Cuba, desapareceu na selva e três semanas mais tarde saiu no outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um território hostil e entregado a carta a Garcia, são coisas que não tenho agora o desejo de relatar em detalhes. O ponto que quero ressaltar é o seguinte: McKinley deu uma carta a Rowan para entregar a Garcia; Rowan pegou a carta e não perguntou: "Onde ele está?"
Pela eternidade, aí está um homem cuja forma devia ser moldada em bronze imortal e a estátua colocada em todos os colégios! Não é de conhecimentos teóricos que os jovens precisam, nem de instruções sobre isso e aquilo, mas de um endurecimento das vértebras que os levem a serem mais leais a uma responsabilidade, a agirem prontamente, concentrando suas energias, a fazerem o que tem de ser feito - "Levar uma mensagem a Garcia". O General Garcia está morto agora, mas existem outros Garcias.
Nenhum homem que já se empenhou em realizar um empreendimento para o qual muitos outros tinham de colaborar deixou de ficar consternado às vezes pela indeterminação da média dos homens - a incapacidade ou indisposição de se concentrar numa coisa e fazê-la. A ajuda desleixada, a desatenção tola, a indiferença desmazelada e o trabalho desanimado parecem ser a regra; nenhum homem tem sucesso se não recorrer a todos os meios possíveis com a ajuda de outros para auxiliá-lo, a não ser que Deus, em sua bondade, realize um milagre e envie um Anjo de Luz como seu assistente. Imagine que você está sentado agora em seu escritório, com seis subordinados à disposição. Chame qualquer um e peça o seguinte:
- Por favor, procure na enciclopédia e me prepare um memorando breve sobre a vida de Correggio.
O subordinado vai simplesmente responder "Sim, senhor." e se empenhar no comprimento da tarefa? Pode estar certo de que isso não vai acontecer. Ele olhará para você como uma expressão apática e fará uma ou mais das perguntas seguintes:
- Quem foi esse senhor?
- Que enciclopédia?
- Onde está a enciclopédia?
- Fui contratado para isso?
- Não foi Bismarck que disse
- Por que Charlie não pode cuidar disso?
- Ele está morto?
- Tem pressa?
- Não prefere que eu traga a enciclopédia e que vcê dê uma olhada pessoalmente?
- Para que quer saber?
E aposto dez contra um como depois que você respoonder às perguntas, explicar como encontrar a informação e porque a quer, o subordinado vai sair e pedir a outro para ajudá-lo a tentar descobrir Garcia... e voltará mais tarde para dizer que tal homem não existe. Claro que posso perder a aposta, mas isso não deve acontecer pela Lei das Probabilidades.
Se você for sensato, não vai se dar ao trabalho de explicar ao "assistente" que Correggio está na letra C e não na K; em vez disso, vai sorrir docemente e dizer:
- Não importa.
E tratará de procurar pessoalmente.
Essa incapacidade de ação independente, essa estupidez moral, essa enfermidade da vontade, essa relutância em fazer as coisas com mais animação, são os fatores que adiam o socialismo puro para um futuro distante. Se os homens são incpazes de agir para si mesmos, o que farão quano seus esforços forem em benefício de todos? Um capataz implacável parece indispensável; e o temor de receber o "bilhete azul" no fim da semana é a única coisa que mantém muitos trabalhadores na linha. Anuncie que precisa de um estenógrafo e nove entre dez candidatos não saberão soletrar nem pontuar... e acham que isso não é necessário.
Alguém assim pode escrever uma carta a Garcia? Um capataz de uma grande fábrica me disse:
- Está vendo aquele guarda-livros?
- Estou sim. O que há com ele?
- É um ótimo contador, mas se eu o mandasse ao centro da cidade, em alguma missão, ele poderia ou não realizá-la. Seria bem capaz de fazer quatro paradas no caminho e depois esquecer o que tinha para fazer no centro.
Pode-se confiar que um homem assim leve uma mensagem a Garcia?
Temos ouvido ultimamente muita compaixão sentimental pelo "operário oprimido das fábricas exploradoras" e pelo "vagabundo sem lar à procura de um emprego honesto". Tais manifestações de simpatia são sempre acompanhadas por críticas rigorosas aos homens que estão no poder.
Mas nada se diz do empregador que envelhece prematuramente, na vã tentativa de levar imprestáveis desmazelados a realizarem um trabalho inteligente; nada se fala de seu esforço com os empregados que param de trabalhar no momento em que ele vira as costas. Em todas as lojas e fábricas há um constante processo de depuração. O empregador está sempre dispensando os que demonstram sua incapacidade de promover os interesses da empresa, e contratando outros. Não importa quão próspera seja a época, essa depuração continua, podendo às vezes se tornar terrível quando o trabalho é escasso - mas sempre, invariavelmente, os incompetentes e imprestáveis são dispensados. É a sobrevivência dos mais capazes. O interesse próprio leva cada empregador a conservar os melhores - aqueles que podem levar uma mensagem a Garcia.
Conheço um homem que é realmente brilhante em muitas coisas, embora não tenha a capacidade de administrar seu próprio negócio; e é absolutamente inútil para qualquer outro, porque mantém a suspeita absurda de que o empregador o está oprimindo ou não adimite recebê-las. Caso lhe fosse entregue uma mensagem para levar a Garcia, provavelmente encararia o responsável como um Shylock ganancioso e avaro e diria: "Leve você mesmo!" Considera todos os homens de negócios como escroques e constantemente usa o termo "comercial" como um epíteto depreciativo. Esta noite este homem caminha pelas ruas à procura de trabalho, o vento assoviando por seu casaco puído. Ninguém que o conheça se atreve a contratá-lo, pois é um permanente atiçador de insatisfações. É impermeável à razão e a única coisa que pode impressioná-lo é o bico de uma botina grande.
Claro que sei que se deve ter tanta pena de uma pessoa tão deformada moralmente quanto se sente de um deficiente físico; mas, em nossa compaixão, vamos derramar também uma lágrima pelos homens que estão se empenhando em promover um grande empreendimento, cujas horas de trabalho não são limitadas pelo apito da fábrica e cujos cabelos embranquecem rapidamente, em decorrência da luta para manter na linha a indiferença desleixada, a imbecilidade total e a ingratidão insensível de todos os que estariam passando fome e desabrigados, se não fosse pela iniciativa deles.
Será que apresentei o problema com muita veemência? É bem possível; mas quando o mundo inteiro se apraz em divagações, quero apresentar uma palavra de solidariedade pelo homem que alcança o sucesso - o homem que, contra todas as desvantagens, orientou seus esforços e foi bem sucedido, para descobrir que nada há no sucesso além de casa, comida e roupas. Já andei com uma marmita e também já fui patrão; sei que há algo a dizer pelos dois lados. Não há excelência por si mesma na pobreza; trapos não são uma recomendação; e nem todos os patrões são gananciosos e arrogante, assim como nem todos os pobres são virtuosos. Meu coração se enternece pelo homem que realiza seu trabalho quando o "chefe" está ausente, com o mesmo empenho que demonstra em sua presença. E pelo homem que, ao receber uma carta para entregar a Garcia, pega-a sem fazer perguntas idiotas e sem a intenção de jogá-la no bueiro mais próximo, sem pensar em outra coisa que não encontrar o destinatário. Pelo homem que nunca é "despedido" nem precisa entrar em greve por melhores salários. A civilização é uma busca longa e ansiosa por pessoas assim. Ele é desejado em todas as cidades e aldeias, em cada escritório, loja e fábrica. O mundo clama por sua presença. Ele é necessário e muito: o homem que pode levar uma Mensagem a Garcia.