domingo, 13 de setembro de 2009

Quadrinhos - I

Vinagretson é um cara legal. Seus primeiros traços começaram a surgir quando eu cursava a faculdade, lá pelos meus 21 anos, mas seu nome surgiu somente há pouco tempo atrás. Esta é a primeira tirinha que faço dele, aproveitando os recursos atuais da informática e dos blogs.




Verdade verdadeira, essa história aí de cima ocorreu comigo, quando resolvi fazer o bendito estrogonofe de camarão. Até o creme de leite e os demais ingredientes (molho inglês, mostarda, catchup) estava tudo caminhando bem. Mas quando resolvi colocar curry... sim, as imagens do galinheiro da minha avó em Portugal, isso há mais de 32 anos atrás, vieram como um soco em minha mente, imagens frescas como se eu estivesse estado lá há apenas alguns minutos! Nunca pensei que os aromas pudessem nos remeter a lugares ou nos fazer reviver situações tão comuns com tanta vivacidade! Não é preciso dizer também que o estrogonofe foi para o lixo...

domingo, 6 de setembro de 2009

Jogos de Tabuleiro - II

 
Uma variante do jogo da onça e dos cachorros, tratado na postagem anterior, é chamado de "jogo da raposa e dos gansos". Do que pude apurar em outros sítios da Internet, este jogo tem origem européia e, dependendo da região, também é conhecido por jogo da raposa e das galinhas ou ainda jogo do lobo e das ovelhas. A figura abaixo mostra o traçado e a disposição das peças deste jogo:

 
Nesta variante, as pedras azuis são os gansos e a pedra vermelha, a raposa. As regras são as seguintes: antes de se iniciar o jogo a raposa pode ser colocada em qualquer casa vazia à escolha do jogador. Uma casa é a intersecção entre duas linhas quaisquer. A posição dos gansos para iniciar o jogo é fixa, como indicada na figura. Os gansos sempre começam o jogo. Tanto os gansos quanto a raposa podem se mover uma casa por vez em qualquer direção, desde que a casa esteja vazia. Como no jogo da onça e dos cachorros, a raposa pode pular sobre um ganso para uma casa vazia e eliminá-lo ou pode eliminar mais de um ganso numa única jogada se a disposição das peças permitirem esse movimento; já os gansos só podem cercar a raposa, tentando privá-la de movimento no tabuleiro. Vence a raposa se for capaz de eliminar tantos gansos que os que sobram no tabuleiro não são mais capazes de cercá-la. Vencem os gansos se forem capazes de cercar a raposa, impedindo qualquer movimento seu.
Pelo que pude apurar, as regras do jogo favorecem os gansos. Para tornar a partida mais equilibrada, talvez fosse o caso de alterar o traçado do jogo, que na configuração acima permite apenas o movimento dos gansos e da raposa semelhante ao da torre no xadrez. Uma opção seria incluir um traçado que permita a movimentação não apenas semelhante ao da torre mas também o movimento do bispo, ou seja, na diagonal. Abaixo, um possível traçado para melhorar o equilíbrio de forças:
Se mesmo assim se concluir que os gansos levam vantagem, podemos efetuar uma última mudança nas regras, permitindo que a raposa movimente-se na horizontal, na vertical e nas diagonais e os gansos somente na horizontal e na vertical. É isso aí: mais um jogo para a coleção.

sábado, 5 de setembro de 2009

Jogos de Tabuleiro - I


Jogos de computador têm se mostrado extremamente versáteis, seja nas estratégias adotadas, seja nos gráficos que compõem as cenas, seja na inteligência artificial que atua como nosso oponente. A Internet favorece também a disseminação de jogos com múltiplos jogadores em cenários beligerantes incríveis, permitindo uma miríade de possibilidades de ação em partidas intermináveis nunca antes vistas em jogos de qualquer categoria.
A infinidade de títulos disponíveis e a disseminação dos computadores em nossos lares vêm transformando nossos bons e saudosos jogos de tabuleiro em brinquedos fora de moda, inclusive porque é possível encontrar jogos de tabuleiro digitais, como é o caso clássico do jogo de xadrez.
Entretanto, o preço que os jogos de computador nos impuseram foi o isolamento social.  Sim, podemos nos encontrar em uma partida atuando contra ou como aliados a milhares de outros jogadores, mas estamos sozinhos, num quarto ou numa sala, e aquela multidão do outro lado do computador são anônimos sem rosto e sem nenhum vínculo emocional, meras inteligências não artificiais aplicando suas estratégias na ânsia de conseguir mais pontos ou alcançar novos níveis de batalha. Infelizmente, não há clima pra enviar uma mensagem instantânea a qualquer mero desconhecido durante um ataque virtual a um castelo e perguntar:
- E aí, será que passa o projeto do pré-sal?
A vantagem insuperável de um jogo de tabuleiro real é sua capacidade intrínseca de reunir ao menos duas pessoas, amigas o suficiente para que se coloquem frente a frente numa partida enquanto compartilham de momentos agradáveis, como conversar sobre qualquer amenidade que venha à telha, enquanto bebericam alguma coisa e aguardam os espetinhos de carne e de frango assando na churrasqueira. Além disso, se levarmos um tabuleiro para um parque hoje em dia, o máximo que pode nos acontecer é ganhar uma platéia atônita e curiosa para saber o que estamos fazendo ali sentados, compenetrados, olhando para uma placa cheia  riscos e de pequenas peças espalhadas sobre ela; porém, se tentarmos levar nosso notebook a esse mesmo parque para jogar qualquer coisa nele é porque gostamos de correr muitos riscos, regados a adrenalina...
Foi pensando nisso tudo que resolvi criar esta postagem que, espero, seja a primeira de uma série que virá, referente aos jogos de tabuleiro. Minha intenção principal é apresentar não os jogos mais conhecidos, como é o caso do xadrez ou do jogo de damas, porque existe gente muito mais gabaritada que eu para falar deles e também porque são jogos amplamente difundidos mesmo aqui no Brasil. Antes, pretendo apresentar os jogos extremamente antigos e de preferência pouco conhecidos do público em geral, cujas regras sejam deduzidas ou tenham sido recriadas sob hipóteses, baseadas em relatos antigos ou através de observações arqueológicas. Ressalto ainda que qualquer um desses jogos encontram-se em inúmeros sítios da Internet; meu objetivo neste caso é reunir, em língua portuguesa, tudo que me soe interessante e aderente ao propósito desta série de  postagens.
Assim sendo, o primeiro jogo que pretendo abordar é o "Jogo da onça e dos cachorros". Conhecido dos índios Bororos do Mato Grosso, e por eles chamado de adugo, é semelhante ao jogo do puma, este de origem inca. Escavações arqueológicas em ruínas pré-colombianas na região de Cuzco encontraram riscados idênticos aos utilizados pelos índios brasileiros. A imagem abaixo mostra como é o traçado do jogo e a disposição das peças, executada pelos Bororos:
 
 Abaixo reproduzo o traçado do jogo e a disposição das peças com mais detalhes:




No desenho acima, as peças azuis (14 no total) representam os cachorros e a peça vermelha a onça. As regras são bastante simples: o jogador que joga com a onça sempre começa o jogo. Tanto os cachorros quanto a onça podem se deslocar uma casa em qualquer direção ao longo das linhas, desde que a casa de destino se encontre vazia. Uma casa é a intersecção de duas ou mais linhas quaisquer do traçado.
A onça pode eliminar um cachorro pulando sobre ele para uma casa vazia, do mesmo modo que movimentamos as pedras no jogo de damas. Também como no jogo de damas, a onça pode eliminar mais de um cachorro num único lance, se a disposição das peças assim a permitir. Os cachorros não eliminam a onça, eles apenas devem tentar cercá-la, impedindo que consiga se movimentar em qualquer direção. Os cachorros ganham a partida se encurralarem a onça, impedindo seu movimento, seja pulando sobre um cachorro para uma casa vazia, seja fugindo para qualquer casa vazia adjacente à que se encontre. A onça por sua vez vence a partida se eliminar tantos cachorros que os restantes não sejam mais capazes de cercá-la.
A vantagem deste jogo é que podemos riscá-lo no chão à moda dos Bororos, na areia se estivermos na praia, ou desenhá-lo numa folha de papel. As peças podem ser tampinhas de garrafa ou pedrinhas. Agora não há como alegar que a falta de uma tomada ou de um computador nos impeçam de aproveitar o tempo com uma brincadeira agradável.