sábado, 29 de agosto de 2009

Coroas de reis

 Minha casa tinha um grande quintal cimentado, onde era possível jogar bola e andar de bicicleta com tranquilidade e sem aperto. Mas nos dias de chuva era dentro de casa que eu ficava, e nesses dias era preciso brincar de modo diferente: com carrinhos de plástico colorido, assistir aos meus desenhos animados favoritos na televisão preto-e-branco, ou quem sabe rabiscar e colorir folhas de papel com meus gizes de cera e canetas hidrográficas.
Mas naqueles dias estava chovendo muito e prolongadamente e eu, já entediado de brincar, resolvi olhar a chuva que caía no quintal pela janela da sala. E ao observar as gotas batendo no chão, notei que formavam uma silhueta que lembrava uma coroa de rei ou rainha. E pensei:
- Porque será que a chuva forma coroas de reis no chão?
E num esforço filosófico infantil para decifrar tal mistério, cheguei a esta conclusão:
- Com certeza, cada coroa que se forma no chão representa um rei ou rainha que existiu neste mundo!
A chuva caía forte, com intensidade, e milhões de gotas batiam no chão, formando a tal figura. Eu mal sabia contar até 5, que era a minha idade por aquela época, mas pude entender claramente que aquela infinidade de coroas eram muito mais que cinco. E voltei a me questionar:
- Puxa, mas será que existiram tantos reis e rainhas no mundo? É muita coroa!
Não tendo uma resposta plausível para essa intricada pergunta existencial, resolvi esquecer as coroas por um tempo e fui me dedicar a comer alguns ovinhos de amendoim na cozinha. Fato é que gosto até hoje de ver essas coroinhas se formando toda vez que a chuva cai.

Nenhum comentário:

Postar um comentário